papaFalta de solidariedade é desafio no combate à fome, diz Papa

Por Jéssica Marçal, da Redação
Foto: Reprodução CTV

Papa Francisco discursou à conferência da FAO sobre nutrição e criticou a ganância que dificulta o combate à fome

O espírito de fraternidade pode ser decisivo para soluções adequadas no combate à fome, enfatizou o Papa Francisco, em seu discurso à 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, nesta quinta-feira, 20. A reunião é promovida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

O Papa observou que, embora as nações estejam entrelaçadas entre si, tais relações acabam danificadas pela suspeita recíproca, que se converte em agressão bélica e econômica, uma realidade bem conhecida por quem passa fome e não tem trabalho.

Para Francisco, o direito à alimentação só será garantido se houver uma preocupação com essas pessoas que sofrem com a fome e a desnutrição. Muito se fala de direitos, disse o Papa, mas, com frequência, os deveres são esquecidos e talvez exista pouca preocupação com que não tem o que comer.

“Dói constatar que a luta contra a fome e a desnutrição é dificultada pela ‘prioridade do mercado’ e pela ‘preeminência da ganância’, que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira. E enquanto se fala de novos direitos, o faminto está aí, na esquina da rua, e pede um documento de identidade, ser considerado em sua condição, receber uma alimentação de base saudável. Pede-nos dignidade, não esmola”.

Desafios

Francisco recordou o alerta dado por São João Paulo II na primeira conferência sobre o tema, realizada em 1992, sobre o “paradoxo da abundância”: existe comida para todos, mas nem todos podem comer, enquanto isso, o desperdício é uma realidade. Trata-se de uma situação ainda atual, disse o Papa, e que constitui o primeiro desafio a ser enfrentado.

Outro desafio, segundo o Papa, é a falta de solidariedade. Ele observou que o individualismo e a fragmentação são crescentes nas sociedades, o que acaba privando os mais frágeis de uma vida digna e provocando revoltas contra as instituições.

“Quando falta a solidariedade em um país, todos ressentem. Com efeito, a solidariedade é a atitude que torna as pessoas capazes de ir ao encontro do próximo e fundar suas relações mútuas neste sentimento de fraternidade que vai além das diferenças e dos limites, e encoraja a procurarmos, juntos, o bem comum”.

Deveres e soluções

Fonte inesgotável de inspiração nessa luta contra a fome é, segundo o Pontífice, a lei natural inscrita no coração do homem, que fala uma linguagem universal: amor, justiça, paz. “Como as pessoas, também os Estados e as instituições internacionais são chamadas a acolher e cultivar estes valores, no espírito de diálogo e escuta recíproca. Deste modo, o objetivo de nutrir a família humana se torna factível”.

O Papa lembrou que todos têm direito a essas garantidas de amor, justiça e paz e disse que todo Estado tem o dever de estar atento ao bem-estar de seus cidadãos. Nesse sentido, ele também destacou o papel da Igreja católica, que procura dar a sua contribuição manifestando solicitude, em especial, aos marginalizados e excluídos.

Francisco concluiu sua intervenção no evento com um pedido: “Peço também para que a comunidade internacional saiba escutar o chamado desta Conferência e o considere uma expressão da comum consciência da humanidade: dar de comer aos famintos para salvar a vida no planeta”.