pe._charlesPadre José Charles da Silva

Jornal Sal da Terra 165, maio de 2014

“Tinha tudo para seguir outro caminho, pois nunca vi meus pais irem à Igreja para missa.”

Em que momento de sua vida você sentiu o chamado vocacional?

Vocação é chamado. Quem chama é Deus. O Deus de ternura não chama aos berros, com gritaria. Ele chama suavemente, mansamente, aos pés do ouvido, quase cochichando. E este chamado aconteceu na minha tenra infância, quando em diversos momentos enfrentei dificuldades e me recordo que em todos estes momentos, na escuridão do meu quarto junto a minha rede, fazia o meu altar com duas pequenas imagens, uma de Cosme e Damião e outra de Santa Luzia, acendia minha vela, colocava uma rosa branca e ali rezava pedindo a Deus que me ajudasse, com isso fui mantendo com Deus, durante toda minha infância e adolescência uma relação pessoal e intima, me sentia seguro e protegido. Fui então crescendo dentro desta dinâmica e aí Deus foi me atraindo sempre mais de diversas formas naturalmente. Tinha tudo para seguir outro caminho, pois nunca vi meus pais irem à Igreja para missa, meus avós iam raramente a missa do Natal e ano Novo, mas sempre que eles iam me levavam e ficava seduzido com o Padre, na época Monsenhor Barros que me encantava e deste modo Deus foi agindo e fazendo com que tudo acontecesse do seu jeito. E hoje eis-me aqui, Padre.

Nesses anos, que fato ou que momento mais marcou a sua vida?

Muitas coisas me marcaram ao longo deste tempo, destaco a minha ordenação presbiteral, o fato de ter batizado meu primeiro e único sobrinho, no momento como Capelão do Neves e Vigário Paroquial de Neopolis e as diversas pessoas com as quais partilho o meu ministério nestas duas Instituições.

Chegada a idade de Cristo, em quê o senhor mais tenta se igualar a Jesus?

A Sua humanidade. É incrível como os Evangelhos evidencia que nada, nem nenhum pecado pode nos retirar ou nos afastar Dele. Mostrando em cada gesto que somos todos iguais, que temos o mesmo valor e aí recordo alguns momentos incríveis desta humanidade de Cristo: a acolhida de Zaqueu, a parábola da ovelha perdida, a acolhida de Maria Madalena, a multidão que vai ao seu encontro e Ele olha para toda aquela gente e sente compaixão, a sua aproximação dos leprosos, a sua oração no Getsêmani e no alto da Cruz quando ele diz “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46)

Tento não perder este Cristo de vista e nem quero perder, pois ele me ajuda todos os dias a me lembrar que eu preciso olhar para mim e para os outros com o olhar amoroso, terno e cheio de compaixão.

Poderia partilhar um pouco de sua história vocacional como filho de Sant’Ana?

Minha história vocacional como Filho de Sant´Ana é uma continuidade deste itinerário iniciado na infância que foi feito de alguns momentos bastante marcantes, que acabaram por influenciar a minha decisão de ser um Padre Filho de Sant`Ana, e confesso que sou feliz e grato pela vocação que recebi de Deus. As dificuldades existem e os desafios são muitos, afinal viver em comunidade tem seus encantos mais também seus desencantos. Mas a alegria de estar a serviço do próximo e a certeza de estar no lugar que Deus me chamou, compensa.

O senhor é privilegiado ao fazer aniversário em Maio, mês Mariano, conte-nos um pouco sobre o papel de Nossa Senhora em sua vida.

São João Damasceno exclama em uma de suas obras: “Ser vosso devoto, ó Maria Santíssima é uma arma de salvação que Deus dá àqueles que quer salvar”. A devoção a Nossa Senhora é um precioso tesouro e uma das fortes colunas de santificação da Igreja e de seus membros. Uma vez que fora eleita por Deus para ser Mãe de Cristo, estende sua maternidade sobre os seus filhos adotivos.

É na minha vida um poderoso Auxilio, uma coluna que me sustenta e me ajuda a fazer a vontade de Deus, é uma luz admirável, e que a invoco sempre em todos os momentos com o título de Nossa Senhora a Boa Mãe, nela se revela a grandeza de Deus. E por graça exerço meu ministério em duas Instituições que estão sob sua proteção: Capelão do Colégio Nossa Senhora das Neves e Vigário In Pectore de Neópolis

Há 3 anos o senhor passou a integrar à Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, há alguma curiosidade, experiência ou fato que o senhor gostaria de partilhar conosco?

Partilhar que é uma alegria está nesta Paroquia. Agradeço a Deus a oportunidade de conhecer cada um e de partilhar da vida de vocês em diversos momentos. Agradeço pela fraternidade, pela amizade e, acima de tudo, pela humanidade e de estabelecer, ainda que minimamente, uma relação tranquila e sadia, sabendo equilibrar amizade e respeito, e tendo, proporcionalmente, uma relação entre iguais: de alguns posso ser filho; de outros, irmão; de alguns ainda, irmão mais velho. Em todos encontrei sempre amizade e carinho, e a cada um agradeço pela cordialidade e prontidão no serviço.