“Nós não somos donos da verdade, mas queremos fazer uma proposta”

Por CNBB

manifestoO arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, afirmou durante cerimônia de lançamento do Manifesto em Defesa da Democracia, ocorrida nesta quarta-feira, 25, em Brasília (DF), que as 106 entidades envolvidas no projeto da Reforma Política Democrática pretendem oferecer uma sugestão de mudança que acreditam ser mais adequada ao país.

“Nós, eu creio, com a OAB aqui representada pelo seu presidente, não somos donos da verdade, mas queremos fazer uma proposta que é apoiada por esta Coalizão bastante ampla, bastante significativa enquanto representante da sociedade brasileira, para justamente provocar o debate no Congresso Nacional”, afirmou.

Dom Damasceno, ao lado do presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coêlho, apresentou o Manifesto em que as duas entidades posicionam-se a favor da democracia, com “a convicção de que acima das divergências políticas, naturais numa República, estão a ordem constitucional e a normalidade democrática”.

Em seu pronunciamento, o cardeal Raymundo Damasceno Assis falou da presença da Igreja Católica na “vida e na história da sociedade brasileira” e recordou a Campanha da Fraternidade de 2015, cujo tema é “Fraternidade: Igreja e sociedade” e o lema “Eu vim para servir”. O presidente da CNBB expressou o desejo da Igreja em “continuar contribuindo, respeitando a laicidade do Estado e a autonomia das realidades terrestres, com a dignificação do ser humano”.

Dom Damasceno ressaltou durante a cerimônia a missão da Igreja em ensinar critérios e valores para orientar os cristãos. “A Igreja, como todos sabem, ela não se identifica, é claro, como os partidos políticos, nem com interesses de partidos. A Igreja tem uma missão muito especial, espiritual e religiosa. E na sua missão, cabe à Igreja, sobretudo, ensinar critérios e valores, orientar as consciências, educar nas virtudes individuais e políticas e ser advogada da justiça e da verdade”, explicou.

Para ele, essa atuação na vida pública, “presença da Igreja no coração do mundo”, deve ser assumida pelos cristãos leigos e leigas, à luz “dos ensinamentos do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja com a construção de uma sociedade humana e solidária, opondo-se a toda forma de injustiça”. O cardeal aproveitou a oportunidade para felicitar os que atuam neste meio, “que fazem da política um serviço ao bem comum, à sociedade brasileira, um serviço inspirado na ética, no Evangelho”.

Ao final, dom Damasceno pediu para que haja acompanhamento ativo da tramitação no Congresso Nacional das várias propostas de reforma política. “Sabemos que esta reforma terá certamente um longo itinerário a percorrer, não será tão fácil, caberá ser discutida pelo Congresso, mas, sobretudo acompanhada pela população, para que esse processo da reforma chegue a bom termo”, disse.

O presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, ressaltou a fala de dom Damasceno em relação à proposição do projeto de Reforma Política, em que os agentes das entidades não têm a presunção de se portarem como “donos da verdade”, mas “sujeitos que querem ser ouvidos, considerados”, como “protagonistas deste importante debate que acontece na sociedade brasileira”.

O presidente da OAB recordou a última articulação das entidades envolvidas na Coalizão que resultou na Lei da Ficha Limpa. “Enquanto a Lei da Ficha Limpa cuida das consequências, o projeto por eleições limpas, que é o projeto de reforma política democrática, busca cuidar das causas destes problemas. E a principal causa no nosso entendimento é o financiamento empresarial a candidatos e partidos políticos”, explicou.

Ao finalizar seu pronunciamento, o presidente da OAB afirmou que as 106 entidades que propõem o projeto de lei de iniciativa popular pela Reforma Política Democrática seguirão juntas “respeitando as opiniões divergentes e também querendo que este movimento seja respeitado, entendendo que nós não podemos fazer do debate numa sociedade democrática a utilização de um instrumento que é o de diminuir ou desqualificar a proposta que eu não concordo desqualificando o proponente, desqualificando o movimento para dizer que é ideológico, ou partidário ou que não tem a independência necessária”, alertou. Ao fazer um convite para que as pessoas discutam as propostas, Furtado defendeu o respeito à “Coalizão de 106 entidades que construiu uma proposta ao debate”.

Leia o discurso do cardeal Raymundo Damasceno Assis:

DISCURSO DO CARDEAL DAMASCENO ASSIS DURANTE

O LANÇAMENTO DO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Bom dia e minhas cordiais boas-vindas a todas e a todos, presentes à sede do Secretariado Nacional da CNBB, em Brasília/DF, para o lançamento do manifesto em defesa da democracia que expressa o anseio de inúmeras entidades da sociedade civil organizada por uma reforma política democrática.

A Igreja Católica, como recorda a CF 2015 – Igreja e Sociedade, sempre esteve presente na vida e na história da sociedade brasileira e deseja continuar contribuindo, respeitando a laicidade do estado e a autonomia das realidades terrestres, com a dignificação do ser humano. Para tanto, ela se propõe a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições, para o bem comum de todos os brasileiros e brasileiras.

A Igreja não se identifica com os políticos, nem com interesses de partidos. Sua missão, nesse campo, é ensinar critérios e valores irrevogáveis, orientar as consciências, educar nas virtudes individuais e políticas e ser advogada da justiça e da verdade.

São os cristãos leigos e as cristãs leigas, presença da igreja no coração do mundo, que devem assumir sua responsabilidade, na vida pública, contribuindo, à luz do evangelho e do ensino social da Igreja, com a construção de uma sociedade humana e solidária, opondo-se a toda forma de injustiça.

Ao lançar este manifesto, fazemos votos de que o Congresso Nacional, enquanto representante da vontade do povo brasileiro, possa levar a bom termo a esperada reforma política, para o bem do nosso país.

Conclamamos o povo brasileiro a acompanhar ativamente a tramitação, no congresso nacional, das proposições que tratam da reforma política e a manter-se vigilante e atento aos acontecimentos políticos atuais, para que a expectativa da sociedade não seja frustrada.

Muito obrigado!

Brasília, 25 de fevereiro de 2015

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB