papa_turimPapa fala de castidade, serviço e critica cultura que descarta jovens

Por Rodrigo Luiz dos Santos, da redação
Foto: Reprodução CTV

O encontro com a juventude foi o último compromisso do Papa Francisco na visita à Turim, Itália

No final da tarde deste domingo, 21, o Papa Francisco respondeu perguntas de três jovens na Praça Vittorio Veneto, às 18h (Itália), 14h (Brasília). Chiara, Sara e Luigi apresentaram suas dúvidas. O Papa Francisco preferiu “responder com coração”, deixando de lado o discurso preparado anteriormente.

O Santo Padre indicou aos jovens três palavras: amor, vida, amigos. Em comum, elas têm a “vontade de viver”, como raiz comum. “Viver, não apenas fingir de viver”, recordou o Papa ao citar uma frase do beato Pier Giorgio Frassati.

Em relação ao amor, respondendo a pergunta de Chiara, uma jovem cadeirante, Francisco disse que “o que nos move é a vontade de amar”. “‘Deus é amor’; quando o jovem vive e ama, não se ‘aposenta’”. Afirmou que o deixa triste ver jovens que não se movem. “É como ‘vegetal’, não é uma vida que se move, mas parada. Fico muito triste quando vejo um jovem ‘aposentado’ com 20 anos. Envelheceu muito rápido”, destacou.

O Santo Padre disse que o amor é bem diferente daquilo que mostram as novelas. “O amor tem duas asas sobre as quais se move. Se uma pessoa não tem essas duas asas não é amor”, explicou. A primeira dimensão está mais nas obras do que nas palavras. “O amor é concreto. Não basta dizer que ama, mas é preciso mostrar em gestos, como se dá o amor”, disse. A segunda dimensão do amor é comunicar. “O amor sempre se comunica. Escuta e responde. Se faz no diálogo, na comunhão. Não é surdo, nem mudo, mas comunica. O amor não é um sentimento romântico, mas é concreto e se comunica”, concluiu.

“Muitas vezes nos sentimos decepcionamos no amor, mas como podemos experimentar o amor?”, foi a pergunta de Chiara, uma jovem inclinada à arte, mas que não consegue arrumar emprego. Francisco acrescentou que o amor está nas obras e no diálogo, mas também o amor respeito, não se pode usar as pessoas. “O amor é casto. Neste mundo hedonista, digo para vocês: sejam castos!”. “Digo algo que vocês não esperavam: ‘façam o esforço de viver o amor castamente’. Com isso, há uma consequência: o amor se sacrifica pelos outros. Vejam o exemplo dos pais que se sacrificam por seus filhos. Isso é amor”, disse Francisco.

Ainda respondendo a pergunta de Sara, apaixonada por teatro, o Pontífice declarou que entende quando jovens falam de desconfiança. “Hoje vivemos um cultura do descartável. São descartados crianças e idosos porque não são úteis. Além disso, há o descarte de jovens que não estudam nem trabalham representando 40% da população”, afirmou. Em relação a esses desafios, indicou que “nossa segurança não pode estar nos poderes mundanos” e orientou todos a se colocarem a serviço do próximo.

“Vamos a uma outra palavra-chave: o amor é serviço. Servir aos outros. Depois que Jesus lavou os pés dos apóstolos explicou que existimos para servir uns aos outros. Se digo que amo, mas não me sacrifico pelo outro, isso não é amor”, declarou ao responder a pergunta de Luigi, 26 anos.

O universitário que estuda engenharia civil, é responsável por sete oratórios. O estudante busca levar o “oratório em saída”, nos lugares onde os jovens estão, inclusive fora do ambiente paroquial. Luigi pediu ajuda ao Papa para encontrar um caminho para manifestar o amor por Jesus para com todos.

“Para dar a resposta, passo à pergunta do Luigi. Ele falou de um projeto de compartilhamento, ou seja, de construção. Devemos seguir adiante com nossos projetos de construção. Isso não decepciona. Se você se envolve em um projeto para ajudar crianças de rua, não apenas para dar comida, mas para promover a sociedade, o sentimento de desconfiança vai embora, vai embora também a vontade de se aposentar cedo. É preciso seguir contra a maré”, afirmou.

Como antídoto contra a cultura do prazer, incentivou os jovens a fazerem coisas construtivas, mesmo que sejam pequenas. “Sejam corajosos e criativos. Muitas vezes, as publicidades querem convencer vocês a acreditarem em ilusões. Não sejam ingênuos”, exortou.

Francisco pediu que a juventude viva a realidade. “É preciso compreender esta terra onde se vive. No final de 1800, as condições eram muito difíceis porque tinha a maçonaria, os anticlericais, os demoníacos. Turim vivia um dos momentos mais difíceis da história da Itália, mas pesquisem na casa de vocês quantos santos surgiram naquela época. Eles viveram a realidade e seguiram contramaré, tornando a vida um serviço para os outros. ‘Se quiser fazer algo grande na vida, viva, não faça de conta que vive’”, finalizou repetindo as palavras do beato Pier Giorgio Frassati. Aos universitários, exortou a servirem especialmente os mais pobres.