Jesus expulsa os vendedores do templo

Por Dom Alfredo Schaffler, Bispo de Parnaíba (PI)

Quando o evangelho nos relata que Jesus pegou um cinto ou um chicote para expulsar os vendilhões do templo, parece estranho. Naquele tempo as pessoas estranhavam e também nos dias de hoje. Projetamos sempre Jesus Cristo como aquele que fala manso e prega a concórdia e harmonia no relacionamento humano.

Para compreender esta atitude de Jesus precisamos olhar mais fundo, conhecer mais a realidade que provocou esta reação e o ensinamento que queria transmitir. Precisa ter presente o aspecto econômico e social que o povo passava naquele tempo. Nessa época, as terras da Palestina estavam nas mãos de poucas pessoas. E estes pertenciam a elite religiosa como o sumo sacerdote e os anciãos e moravam em Jerusalém.

O sumo sacerdote era o presidente do sinédrio, o supremo tribunal que condenará Jesus a morte. Três semanas antes da páscoa os arredores do templo se tornavam um grande mercado. O sumo sacerdote enriquecia com o aluguel dos espaços para as barracas dos vendedores e cambistas. Os animais criados nas terras dos grandes, foram conduzidos a Jerusalém e vendidos a preços que, nessa ocasião, aumentavam assustadoramente.

Todo judeu maior de idade devia ir a essa festa e pagar os impostos previstos para o templo. O templo adotara a moeda tíria, como moeda oficial, pois ela não desvalorizava com a inflação que na época de Jesus, era muito alta. A lei proibia o ingresso no templo de moedas pagãs.

Porém os gananciosos cambistas burlavam a lei em vista aos seus privilégios e faziam a troca para uma moeda pura e ganhavam com isso um bom dinheiro. Jesus expulsou do templo bois, ovelhas, animais usados nos sacrifícios que o povo oferecia a Deus. Expulsando–os do templo, Jessé declara inválidos todos esses sacrifícios, bem como o culto que se sustenta graças a exploração.

Deus, o aliado dos sofredores empobrecidos, sempre denunciou, através dos profetas a exploração da religião. Deus ouve o clamor dos explorados e marginalizados. A reação veio da parte dos discípulos que indicavam Jesus como reformador citando o A.T. “ o zelo por tua casa me consome”.

A reação dos dirigentes que se sentiam lesados perguntaram com que autoridade Jesus estava fazendo isso. E hoje? Diante de um mundo que apresenta tantos desequilíbrios a partir da ganância, da falta de honestidade, da corrupção? Qual seria a atitude de Jesus?

Qual é a atitude nossa como seguidores de discípulos de Jesus Cristo? Será que devo continuar tudo sempre assim para o pior?

O mais desperto que sabe mentir melhor, que usa as informações privilegiados no interesse próprio, será que estes devam ser apoiados e exaltados?

Se hoje as pessoas vão as ruas, será que Jesus não iria junto com eles para dizer que devemos mudar no nosso país? A construção do bem comum não vai acontecer se uns querem se perpetuar nos seus privilégios.

Não com a violência deve se mudar, mas com a conversão. Estamos na quaresma e aí devemos perguntar até que ponto cada um de nós está apontando para a verdade na sua vida? Até que ponto estamos olhando para o outro como irmão e não como concorrente que queremos colocar para tras?

Como é que estamos olhando todos aqueles que estão fazendo a triste experiência que não são necessários para a nossa sociedade?

Apenas com pena, contemos pelo menos gestos de solidariedade. Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância. Neste preceito devemos participar como discípulos e seguidores de Jesus Cristo. Você é capaz para isso.

Firme na fé e fiquem com Deus.