Atenção pelos pobres é Evangelho, não comunismo, diz Papa

Da Redação, com Rádio Vaticano
Foto: Arquivo-L’Osservatore Romano

Francisco concedeu nova entrevista a jornais italianos, abordando temas sociais e reiterando a opção da Igreja pelos pobres, o que prega o Evangelho

papa_pobres“A atenção pelos pobres está no Evangelho, não é uma invenção do comunismo e não devemos fazer dela uma ideologia”, disse o Papa Francisco em uma entrevista com Andrea Tornielli, coordenador do “Vatican Insider”, e Giacomo Galeazzi, vaticanista do jornal “La Stampa”, ambas publicações italianas. A entrevista com o Papa conclui o livro intitulado “Papa Francisco. Esta economia mata”, dedicado ao magistério social do Pontífice.

O jornal La Stampa publicou neste domingo, 11, vários trechos da entrevista com o Papa. Em um deles, Francisco explica a opção preferencial pelos pobres, que está no Evangelho e na tradição da Igreja. Ele diz que suas homilias não podem ser consideradas como “marxistas”, porque o convite da Igreja a vencer a “globalização da indiferença” está longe de interesses políticos ou ideológicos.

Aborto

Refletindo sobre globalização, o Papa Francisco destaca suas “luzes” e “sombras”: por um lado, tem ajudado muitas pessoas a saírem da pobreza, levando a um crescimento da riqueza mundial em termos absolutos, mas, por outro lado, a globalização condenou muitas outras pessoas a morrer de fome, provocando um aumento das disparidades e o nascimento de “novas pobrezas”.

Trata-se de um sistema econômico e social que coloca no centro o dinheiro, transformando-o em um ídolo, sublinha o Pontífice. O que predomina na cultura, na política, na sociologia é o “descarte” daquilo que não serve: crianças, jovens, idosos. “A cultura do descarte leva a rejeitar as crianças também com o aborto”, reafirma o Papa que, em seguida, diz estar “chocado” pelas “taxas de natalidade tão baixas na Itália”, porque “assim se perde a ligação com o futuro”.

Eutanásia oculta de idosos abandonados

Essa cultura do descarte também leva, segundo o Papa, à eutanásia oculta dos idosos que são abandonados, em vez de serem considerados “como a nossa memória, a ligação com o nosso passado, uma fonte de sabedoria para o presente”.

Também os jovens são afetados por uma atitude de descarte, de modo que nos países desenvolvidos há milhões de jovens, com menos de 25 anos, desempregados, observa o Papa. Ele define esses jovens como “nem-nem”: não estudam porque não têm possibilidades de fazê-lo e não trabalham porque não há trabalho.

Bem comum

Diante dessas realidades, Francisco deixou o apelo para que essa situação não seja considerada como irreversível. “Tentemos construir uma sociedade e uma economia em que estão no centro o homem e o seu bem, e não o dinheiro, porque sem uma solução para os problemas dos pobres, não vamos resolver os problemas do mundo”, diz o Papa, citando como necessária a ética na economia e a política.

Francisco exortou homens e mulheres a se empenharem em todos os níveis – social, político, institucional e econômico – colocando no centro o bem comum, pois os mercados e a especulação não podem gozar de uma autonomia absoluta, afirma.

“Já não podemos esperar mais para resolver as causas estruturais da pobreza, para curar as nossas sociedades de uma doença que só pode levar a novas crises”.

Pauperismo, caricatura do Evangelho

O Santo Padre recorda ainda que o Evangelho “não condena os ricos, mas a idolatria da riqueza que torna a pessoa insensível ao clamor do pobre”. E, portanto, adverte contra o pauperismo, definindo-o como “uma caricatura do Evangelho e da própria pobreza”.

Pelo contrário, a ligação profunda entre a pobreza e o caminho evangélico, ensinada por São Francisco de Assis, é o verdadeiro “protocolo”, com base no qual o homem será julgado: significa “cuidar do próximo, de quem é pobre, dos que sofrem no corpo e no espírito, dos necessitados”. E isto não é o pauperismo – conclui o Papa – mas Evangelho.