Amigos

Por Dom José Alberto Moura, Arcebispo de Montes Claros (MG)

Amizade é a relação de convivência com alguém, estando a seu lado para o que der e vier, ajudando-o em toda circunstância. Mas não é qualquer tido de relação. Ela é exigente e não se dá com todos. Há seleção natural para isso. Nela as pessoas se estimam a ponto de defender a causa uma da outra, mesmo nos momentos de dificuldades. Não as faz esconder-se quando há infortúnios. Aliás, aí é que se mostra real amizade!

Na relação do humano com o divino o ideal seria a amizade no sentido total e pleno. Há quem tenha medo de Deus. Esconde-se para não ser reprovado ou castigado por Ele. Não o procura. Não se deixa inundar com seu amor e sua proteção. Por isso mesmo, essa pessoa se torna infeliz. Sem o amor de Deus o ser humano é infeliz, mesmo tendo tudo o que é material, preparação intelectual, posição social avantajada… Talvez lhe falte o conhecimento do Deus verdadeiro, que não é castigador, rancoroso, vingativo e mau. O verdadeiro Deus é puro amor (Cf. 1 João 4, 10). Só quer o bem das criaturas, muito mais do ser humano, elevado à filiação divina pelo Filho, que nos adotou como seus irmãos e irmãs.

Jesus vem nos provar que Deus quer sempre nos perdoar as faltas, as ingratidões, as infidelidades, as mentiras, as raivas, as incoerências, as omissões. Basta querermos amá-lo, realizando o que Ele nos propõe para nosso próprio bem. Ele não precisa de nada. Nem de orações, sacrifícios, promessas, culto e ofertas. Ele tem tudo. Se nos faz propostas, de acordo com o exemplo e os ensinamentos do Filho, é porque sabe qual o caminho que nos faz realmente realizados e felizes. O próprio Jesus propõe uma vida de amizade com Deus: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (João 15,14). Há quem é amigo de Deus e não sabe. Às vezes não é quem só faz culto e não pratica os ensinamentos divinos. Pode ser até quem não conhece bem o Filho, mas naturalmente faz tudo o que em consciência sabe ser o bem maior: “Ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10,35).

Quem experimenta ser amigo de Deus não quer deixar tal amizade. Só dorme de consciência tranquila, porque só realiza o bem. Dá de si para a promoção do pobre, da pessoa deixada de lado, como o bom samaritano. Experimenta a compaixão. Não se desespera com os problemas a enfrentar. Faz a própria parte e confia no amigo Deus. Ele é formidável. Faz prodígios em quem confia na sua amizade!

A amizade com Deus faz a pessoa aceitar sua amizade. Ouve sua Palavra. Compara o que Ele fala com a própria vida. Deixa-se levar por seus ensinamentos. Nâo tem medo de realizar a própria missão. Não tem vergonha da própria fé. Ao contrário, dinamiza-a para fazê-la transformadora da própria vida. A pessoa assim se torna solidária com os que sofrem e precisam de ajuda em todas as dimensões. Colabora com causas de promoção do bem comum. Faz da política um meio de grande serviço à coletividade. Não tem medo de denunciar o mal, propor e colaborar com a promoção da vida e da dignidade humana.

Os frutos da amizade com Deus são multiplicados a cada dia e fazem a pessoa viver feliz em vista de sempre contar com a ajuda do amigo divino!