Alegrai-vos sempre no Senhor!

Por Dom Murilo S.R. Krieger, Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil

Uma das características da nossa época é o pessimismo. Multiplicam-se as reclamações por causa da falta de tempo, dos problemas econômicos, do trânsito, do time pelo qual se torce, do governo… Reclama-se de tudo e de todos. O pessimismo tem a força de um tsunami: tudo destrói e tudo arrasta consigo; uma de suas primeiras vítimas é a esperança. Onde e quando falta a esperança, a vida se torna insuportável. Compreende-se, pois, que o poeta Dante tenha imaginado existir na entrada Inferno uma placa com os dizeres: “Vós, que aqui entrais, deixai fora a esperança!” Onde falta a esperança, falta a alegria.

Queremos ser felizes. Esse nosso desejo esbarra, contudo, numa constatação: nossos momentos de felicidade são marcados pela imperfeição, pela fugacidade e pela fragilidade. Na vida de muitos multiplicam-se, então, o tédio e a tristeza, a angústia e o desespero, a solidão e o vazio. Há uma enorme distância entre o que desejamos e o que conseguimos alcançar. O homem moderno que, pela técnica, consegue multiplicar ocasiões de prazer, não consegue fabricar a alegria.

Há uma relação direta entre vida cristã e alegria. Quem entendeu isso muito bem foi o apóstolo Paulo, que pediu aos filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos”(Fl 4,4). Curioso: Paulo estava na prisão, quando fez esse apelo à alegria. Ele havia aprendido que é possível estar cheio de consolo e transbordar de alegria, mesmo no meio de problemas e tribulações (cf. 2Cor 7,2-4).

Para o Papa Paulo VI, beatificado recentemente, seria sem sentido falar da alegria, se nada fizéssemos para que todos tenham um mínimo de segurança, de justiça e de bem-estar; se não trabalhássemos para que a fraternidade crescesse ao redor de nós. Ele insistiu, também, na importância da experiência das alegrias naturais: diante da vida, da natureza, do trabalho bem feito, do dever cumprido, da partilha, do sacrifício… Não se consegue fazer essa experiência sem um paciente esforço de educação. Não é fácil ter um coração de criança, capaz de experimentar as pequenas e humildes alegrias que se renovam mesmo numa vida aparentemente monótona.

O que fazer para que todos tenham a possibilidade de fazer a experiência da alegria? Ela não pode ser vista como um dom para um pequeno grupo de privilegiados. Já que estamos próximos do Natal, vale lembrar o que um dos anjos disse naquela noite aos pastores: “Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2,10). “…alegria… para todo o povo…” Era uma antecipação do que Jesus diria mais tarde: “Disse-vos estas coisas para que minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).

Ao fazer a experiência de Deus e, portando, da alegria, Santo Agostinho observou: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz” (Confissões, X, 27).

A alegria, conquista de Jesus Ressuscitado, é um dom do Espírito Santo. Somente quem o tem será capaz de saboreá-la, mesmo na aflição, no despojamento e na pobreza. Olhando para os que nos cercam, perguntemo-nos: quantas pessoas fazem a experiência dessa alegria? Por outro lado, quantos vivem tristes, esmagados por problemas financeiros , familiares ou pessoais?

Levar a cada pessoa a proposta que o Menino do Presépio veio trazer ao mundo é dar-lhe o que nós mesmos recebemos gratuitamente, por pura bondade do Senhor. Mais do que uma possibilidade, evangelizar é, para nós, uma obrigação, uma agradável obrigação. Para todos os nossos irmãos e irmãs, ser evangelizados é um direito, já que também sobre eles foi derramado o sangue de Jesus Cristo. Evangelizados, experimentarão a alegria que nasce no coração do Pai e que deve estar presente na vida de cada um de seus filhos e filhas.