papaPapa diz: o que vale é caridade concreta, não vida de aparência

Da Redação, com Rádio Vaticano
Foto: L’Osservatore Romano

Santo Padre destacou que a fé não precisa aparecer, mas ser operante na caridade

A nossa vida é uma “vida cristã de cosmética, de aparência, ou é uma vida cristã com a fé operante na caridade?”. Esse foi o questionamento do Papa Francisco na homilia desta terça-feira, 14, na Casa Santa Marta. O Santo Padre destacou que a fé não é somente recitar o Creio, mas exige desprender-se da avidez e da cobiça para saber doar aos outros, especialmente aos pobres.

A fé não tem necessidade de aparecer, mas de ser. Não tem necessidade de ser encoberta de cortesias, especialmente se hipócritas, mas de um coração capaz de amar de forma autêntica. O Papa se inspirou no Evangelho do dia – em que o fariseu se admira porque Jesus não lava as mãos, como prescrito, antes de comer – para repetir que Jesus “condena” este tipo de segurança baseada no cumprimento da lei.

“Jesus condena esta ‘espiritualidade de maquiagem’, parecer bons, bonitos, mas na verdade, por dentro, é completamente outra coisa! Jesus condena as pessoas de boas maneiras, mas de más atitudes, aqueles comportamentos que não são vistos, mas são feitos escondidos. Mas a aparência é correta: estas pessoas que gostavam de passear nas praças, para se fazer ver pregando, ‘maquiando-se’ com um pouco de fraqueza quando jejuavam… Por que o Senhor é assim? Vejam que são dois os adjetivos que Ele usa aqui, mas ligados entre si: avidez e maldade”.

“Sepulcros caiados”, dirá Jesus sobre eles no análogo trecho do Evangelho de Mateus, referindo-se a certos comportamentos, por Ele definidos com dureza como imundícia, podridão. “Antes dai esmola do que possuís”, é a sua contra-proposta. “A esmola sempre foi, na tradição da Bíblia, quer no Antigo como no Novo Testamento, uma pedra de medida de justiça”, disse o Papa. Também Paulo, na leitura do dia, discute com os Gálatas pelo mesmo motivo, o apego deles à lei. E idêntico é também o resultado, porque, conforme destacou o Pontífice, a Lei sozinha não salva.

“O que vale é a fé. Qual fé? A que ‘se torna operante por meio da caridade’. O mesmo discurso de Jesus ao fariseu. Uma fé que não é somente recitar o Creio. Todos nós acreditamos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, na vida eterna… Todos acreditamos! Mas esta é uma fé imóvel, não operante. O que vale em Cristo Jesus é a ação que vem da fé, ou melhor, a fé que se torna operante na caridade. Isto é, esmola, caridade. Esmola no sentido mais amplo da palavra: desprender-se da ditadura do dinheiro, da idolatria do dinheiro. Toda cobiça nos afasta de Jesus Cristo”.

O Papa Francisco recordou um episódio da vida do padre Arrupe, Prepósito Geral dos Jesuítas dos anos 60 aos 80. Um dia, uma rica senhora o convidou a ir a um local para doar-lhe dinheiro para a missão no Japão, pela qual o padre Arrupe estava trabalhando. A entrega do envelope ocorreu praticamente na porta, diante de jornalistas e fotógrafos. Padre Arrupe contou ter sofrido uma grande humilhação, mas aceitou o dinheiro “pelos pobres do Japão”. Quando abriu o envelope, havia dez dólares.

Diante do episódio, Francisco convidou cada um a pensar se tem uma vida cristã de aparência ou de fé operante na caridade. “Jesus nos aconselha isto: ‘Não toqueis a trombeta’. E nos fala daquela velhinha que deu tudo que tinha para viver. E louva aquela mulher por ter feito isto. E o fez um pouco escondida, talvez porque se envergonhava de não poder dar mais”.