crismaNa Missa do Crisma, Papa fala do cansaço dos sacerdotes

Da Redação, com Rádio Vaticano
Foto: Reprodução CTV

Francisco convidou os padres a pedirem a graça de estarem “bem cansados” e de aprender a repousar com discernimento

O Papa Francisco celebrou, na manhã desta Quinta-feira Santa, 2, a Missa do Crisma, na Basílica Vaticana. Francisco abençoou os santos óleos que serão utilizados ao longo do ano nos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos.

O tema central da homilia do Papa foi o cansaço dos sacerdotes. “Sabem quantas vezes penso nisto, no cansaço de todos vocês?”, perguntou Francisco. “Penso muito e rezo com frequência, especialmente quando sou eu que estou cansado. Rezo por vocês que trabalham no meio do povo fiel de Deus, que foi confiado a vocês; e muitos fazem isso em lugares tão isolados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu. O nosso cansaço eleva-se diretamente ao coração do Pai”, disse o Papa.

Francisco encorajou os sacerdotes a perceberam também que Nossa Senhora está ciente deste cansaço e que imediatamente ressalta isso para Deus. “Como Mãe, sabe compreender quando os seus filhos estão cansados, e só disso se preocupa. ‘Bem-vindo! Descansa, meu filho. Depois falamos… Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?’”, refletiu Francisco.

Ao citar uma chave da fecundidade sacerdotal que, de acordo com o Papa, está na forma como os sacerdotes repousam e como o Senhor cuida do cansaço deles, Francisco afirmou: “Como é difícil aprender a repousar”, e prosseguiu: “Nisto transparece a nossa confiança e a consciência de que também nós somos ovelhas”.

Contudo, Francisco convidou os sacerdotes ao discernimento: “Sei repousar recebendo o amor, a gratidão e todo o carinho que me dá o povo fiel de Deus? Ou, depois do trabalho pastoral, procuro repousos mais refinados: não os repousos dos pobres, mas os que oferece a sociedade de consumo?”, ponderou Francisco.

Três tipos de cansaço

De maneira espontânea, Francisco quis compartilhar suas reflexões acerca de três tipos de cansaço. O primeiro deles foi o cansaço do povo, das multidões. Este é um “cansaço bom e saudável”, disse o Papa. “É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima para baixo”.

O segundo tipo citado pelo Papa foi o cansaço dos inimigos. Ele alertou que o diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus ouvidos não suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para silenciar ou distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii Gaudium, 83).

“O maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num instante aquilo que construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é preciso pedir a graça de aprender a neutralizar: neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender”, advertiu o Papa.

Na conclusão, Francisco falou do “cansaço de nós mesmos” que, para ele, é o mais perigoso, uma vez que os anteriores derivam do fato dos sacerdotes estarem expostos, de terem saído deles mesmos para ungir e servir.

“Este cansaço é mais auto-referencial…Trata-se do cansaço que resulta de ‘querer e não querer’”, finalizou o Papa, convidando os sacerdotes a aprenderem a estar cansados, “mas com um cansaço bom”.