cristoHA MAQON – Deus é o lugar

“Deus está nesta sala, nesta cidade, mas, como Ele é maior que a sala, a cidade, elas não podem contê-lo, então a sala, a cidade… estão n’Ele, Ele é o lugar.”

Assim começaremos a relatar sobre a simbologia usada na reforma da Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, localizada no bairro de Neópolis, cidade de Natal no Estado do Rio Grande do Norte.

SINAIS BÁSICOS

– O CENTRO: É o princípio fundamental do símbolo e gera ação e forma.
– O CÍRCULO: O primeiro símbolo perfeito gerado pelo centro, significando perfeição, harmonia e unidade.
– A CRUZ: É o mais elementar sinal da presença do homem há milhares de anos antes de Cristo. Era comum que as pessoas assinassem e se assinalassem com uma cruz. A cruz também é um símbolo do meio, do equilíbrio, do homem perfeito.
– O QUADRADO: É materialização do espaço. São os limites do próprio espaço, da terra, do “aqui”.É o símbolo da terra em oposição ao céu.

OS NÚMEROS

Os números são também a concretização simbólica de uma linguagem. No Oriente, o sistema não é binário como no Ocidente. Os números são na totalidade 7, pois são os elementos da natureza: o ar, a água, o fogo, a terra, as plantas, os animais e o homem.
– TRÊS: No cristianismo é símbolo da trindade, comunicação, perfeição, relacionamento.
– QUATRO: São os quatro lados do limite humano. Está relacionado diretamente com o quadrado e com a cruz.
– CINCO: É a relação entre os seres Incriado e criador, a lei. Para os hebreus corresponde aos cinco dedos da mão perfeita. É o número do Pentateuco.
– SETE: São os elementos da natureza criados pelo Um. É o número da plenitude. Símbolo do Espírito Santo.
– OITO: É no judeu-cristianismo o número perfeito correspondente aos setes elementos criados + o Um incriado e agora manifestado em Jesus Cristo. É o número do Cristo.

AS CORES

– AMARELO: A cor do sol. No cristianismo antigo Cristo era comparado ao Sol (Justo). Também está relacionado com a eternidade e com a transfiguração.
– VERDE: A cor da esperança, da longa vida e da imortalidade. Artistas cristãos antigos pintavam a cruz de Cristo de verde como sinal da renovação realizada por Cristo e expressão da esperança da volta da humanidade ao paraíso.
– VIOLETA: A cor da intermediação, do equilíbrio (entre o céu e a terra, o espírito e o corpo, o amor e a sabedoria). É a cor da paixão de Cristo (como indicação simbólica da perfeita ligação de Deus com o homem através do sofrimento e da morte de Cristo).
– MARROM: Está relacionado com a terra. Cor terra, sempre foi usado nas basílicas. É a cor relacionada com gruta, útero (lugar de repouso e gestação).

“Eu, morando neles, me exaltarão eternamente.” (Sl 5, 12)

O ESPAÇO DE CELEBRAÇÃO CRISTÃ É:

um lugar com qualidade de vida, porque é o espaço de Deus (perfeição e unidade) e espaço do homem (justiça, caridade, alegria …).
um espaço de orientação para a vida, quem nos conclama tem seu modo de ser e agir e de conosco partilhar sua vida,
um lugar com uma linguagem própria de seu povo de sua comunidade,
o lugar da palavra, do verbo, da escuta, do silêncio.
o lugar do grande encontro: A Eucaristia. Onde o sagrado desposa o humano.
o lugar de oração e adoração.
o lugar de repouso, do domingo, do dia do Senhor.
o lugar forte e belo onde o Deus vivo e da vida se manifesta. Daí, desse espaço, Ele, o Senhor, irradia vida para o mundo. Daí, repousados n´Ele, saímos renovados.

“A igreja de tijolo e cimento é o sinal visível da Igreja, povo de Deus convocado e reunido em assembleia na liturgia em torno do Cristo.”

A igreja hoje, a de pedras, deve ser o anúncio e testemunho de Jesus Cristo como também sua arquitetura deve ser uma catequese viva para educar, moldar os que aí vivem e a buscam. O padre e a comunidade passam, mas as pedras ficam.
A base, o centro do edifício é Cristo, a rocha. O altar é Cristo. Tudo converge para o altar e tudo flui como rios de água viva desse altar, pois aí é selado o mandamento novo, o memorial eucarístico.

PARTES QUE COMPÕEM A IGREJA

O Santuário (presbitério) é o lugar mais importante de todo o espaço celebrativo, portanto deve ser amplo para a ação litúrgica, visível a todos. Foi dada uma maior atenção a este espaço, traduzido em uma forma curva com dois degraus ascendente em relação ao espaço da igreja, com acesso para deficientes físicos e circulação para a capela do Santíssimo e Sacristia.

As peças colocadas no Santuário (presbitério) são o altar, a sédia (cátedra), o ambão, a cruz processional, a credência, a pia batismal. O altar, sédia e ambão são sacramentais e, dada a sua intrínseca importância, devem ser sólidos, isto é, com materiais que transmitam solidez. O altar está localizado no centro do santuário (presbitério) sob uma cruz de oito pontas que significa o número de Cristo (os sete elementos mais o Cristo). O altar deve estar sempre desnudo para a devida veneração dos fiéis. Nele está gravado no centro a cruz de consagração.

A unidade e a harmonia do santuário ajudam os celebrantes, refletem na assembléia em oração e permitem a fluidez da ação litúrgica.

A sédia ou cátedra é a “Cadeira D´Aquele que Vem” e preside a celebração, o Cristo.

O ambão, isto é, a mesa da palavra, é comparado à pedra do sepulcro da Ressurreição, pois é o próprio Senhor que primeiro se anunciou.

Os materiais aplicados, em todas as peças seguem o princípio de material sólido com distinção em relação a sua importância.

A nave, lugar de atenção, respeito, silêncio, do alerta, da vigilância. Local totalmente voltado para ou envolvendo o santuário. Foi aplicado materiais relacionado com a simbologia cristã. Foram usados elementos decorativos (frisos) para a lateral do forro das naves laterais representando as raças: brancas (circulares), indígenas (triangulares) e negras (quadradas). As cores estão baseadas nas referências sobre cores: o amarelo, o violeta e suas derivações.

O Atrium, espaço de transição,entre o humano e o divino. O espaço para o silêncio, para a preparação, do sinal da cruz, da água benta, ou seja, do “lavar-se” para entrar no espaço do Outro onde se é convidado. A porta é Cristo e não qualquer porta. Neste ambiente, demos o devido tratamento através do rebaixamento do forro e o acabamento com uma cor mais forte para transmitir a sensação de transição. Local limpo, sem adornos e sem elementos decorativos.

O jardim (Claustro) é a imagem do paraíso, sinal da presença de Deus em todos os sete elementos. Está presente o ar, a água em movimento, a natureza, os animais, a terra, o fogo através do sol e o homem. Neste jardim tem uma cópia do trecho do Evangelho de São Mateus 6, 9-13, em latim onde o trecho narra a oração do Pai Nosso.

A Capela do Santíssimo é a capela das reservas eucarísticas como lugar de adoração e oração pessoal. Nela deverá estar presente o tabernáculo e a lâmpada do santíssimo. O local foi decorado de maneira que o centro das atenções fosse o tabernáculo. Espaço silencioso que lembra uma gruta.

A ARTE

A arte é naturalmente uma manifestação religiosa, pois indica outros valores que a imediatez do momento.

A arte sacra procede do ser objetivo de Deus, vem do transcendente e se dirige à transcendência. É a expressão da consciência comunitária e litúrgica de que o artista é o Espírito Santo.

A arte religiosa vem da vida pessoal e suas reflexões de fé, lutas e buscas internas. Faz parte dos cuidados das almas, produz edificação e consolo, mas não tem necessariamente nada com o ser da celebração litúrgica.

Foi colocado no iconostase ( parede central do presbitério ) um ícone chamado de “Cristo Pantocrator”, uma cópia do cristo pintado pelo pintor brasileiro Cláudio Pastro no Vaticano, representando o Cristo do Novo Milênio. O ícone é a arte sacra litúrgica que decora as paredes das igrejas e a parede do santuário com os principais mistérios bíblicos. É essencialmente uma arte de ciclo litúrgico. O ícone é sinal da presença do Invisível entre nós e pintado com normas artísticas e religiosas (orações e jejum) por pessoas adequadas. A palavra Pantocrator significa: é aquele que tudo contém, o Onipotente. Glorifica Cristo como soberano universal. Cristo é representado de pé ou sentado em trono, tendo na mão esquerda o Evangelho e a direita que abençoa com os três dedos apontados que significa a santíssima trindade.

Assim analisamos a simbologia da Igreja matriz da paróquia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. É gratificante entrarmos em um espaço que transmite paz e espiritualidade.

AUTOR DO PROJETO

Stanley Fernandes, Arquiteto.

BIBLIOGRAFIA

Guia do Espaço Sagrado – Cláudio Pastro, Ed. Loyola
Dicionário de Símbolos – Udo Becker, Ed. Paulus.